DIVINA JORNADA AO INFERNO

Naquela noite, meu corpo estava exausto, cansado pela jornada que havia começado com a aurora e se estendido até as sombras da noite. O despertar matutino me levou à igreja para o culto das 6h, onde minha voz entoou hinos de louvor e minha alma se elevou em comunhão com o divino.

Após o culto, como sempre faço, gravei meus testemunhos e exortações para compartilhar com aqueles que seguem minha jornada espiritual nas redes sociais. Após o almoço, visitei uma irmã que jazia em seu leito de aflição. E então, à noite, a igreja se reuniu para o culto da Santa Ceia. Naquela ocasião, senti a presença divina como um véu que se desvela, e Deus, em sua majestade, proferiu palavras misteriosas que tocaram os corações dos fiéis. Curas foram realizadas, e a glória celestial brilhou intensamente sobre nós. Bendito seja o Senhor!

Porém, mesmo com o peso do dia sobre meus ombros, não me atrevo a murmurar, pois minha jornada espiritual é uma constante gratidão. O Senhor me resgatou dos abismos das drogas e da prostituição, e, como o salmista proclama, “Deus me livre de voltar àquela terra seca de violência e depravação.” Glória a Deus!

Apesar do cansaço, eu não podia renegar a missão que o Senho me confiou e, para obter forças para a minha jornada espiritual, mantenho meu hábito de oração antes de ir para a cama. Neste mundo, o maligno está sempre à espreita, pronto para nos arrastar de volta às sombras que um dia habitamos.

Ajoelhei-me humildemente aos pés da cama, e o silêncio da noite envolvendo-me como um manto sagrado. Antes de entregar-me ao Senhor em oração, meu olhar repousou sobre o quadro adornado com o Salmo 91, pendurado na parede atrás da cabeceira.

Naquele instante, como um arrepio sagrado que percorre a espinha, senti a presença divina a me envolver. O Senhor estava prestes a revelar Seus desígnios, e meu coração estava preparado. Segurei a Bíblia com mãos firmes, como quem segura o guia sagrado para a eternidade, e me entreguei ao Senhor. Pois bem sei que “o Senhor é meu pastor, nada me faltará.”

Fechei meus olhos em reverência e, no âmago da escuridão, encontrei-me percorrendo um corredor que parecia esculpido nas entranhas da Terra, um túnel de pedra que ecoava com a frieza das profundezas. O frio mordia minha pele, eriçando os pelos do meu corpo, enquanto eu avançava naquele abismo gélido.

De súbito, uma mudança abrupta na temperatura me envolveu. O calor se insinuou como um sopro ardente, e perante mim, uma porta na pedra se desvendou, revelando um reino de chamas e labaredas descomunais. A escuridão cedeu lugar à intensa luminosidade das chamas que lambiam as fendas da rocha. Nesse momento, meu corpo se tornou um fardo, como se entidades malignas houvessem repousado nos ombros, e minha respiração tornou-se um esforço titânico.

Eu sabia, naquele instante, onde minha jornada me conduzia: o inferno, a morada do anjo caído, Lúcifer. Este não era meu primeiro encontro com esse lugar terrível. O Senhor já me havia guiado até o local em cinco ocasiões distintas. A primeira vez foi quando Osama bin Laden partiu morreu. Em seguida, vieram as passagens de Michael Jackson, Amy Winehouse, o cantor Chorão e Maradona. Pessoas pecadoras, que haviam desviado do caminho do Senhor, atraídas pelas artimanhas da fama, das drogas e da depravação.

Naquele momento de trevas e fogo, eu me questionava sobre a mensagem divina que o Senhor desejava me transmitir. No entanto, eu confiava em Sua vontade e misericórdia.

Assim, erguendo minha voz em súplica, pedi a divina misericórdia, e as sombras malignas cederam lugar à luz gloriosa de Deus. Meu corpo, antes abatido, começou a resplandecer como um anjo do Senhor, como se Deus tivesse me tomado em Suas próprias mãos divinas.

A porta na pedra, antes parcialmente aberta, escancarou-se diante de mim, revelando o interior sombrio da caverna infernal. Lá, almas desesperadas clamavam em agonia, suas carnes consumidas pelas chamas, seus rostos contorcidos pelo terror. Os demônios, que agiam como porteiros daquele reino tenebroso, empunhavam lanças flamejantes e as arremessavam para o lago de fogo, onde as almas ardiam em tormento.

À medida que me aproximava da entrada do inferno, os demônios, com gestos grotescos, cobriram os olhos com as mãos, temendo o esplendor divino que irradiava de mim. Suas vozes, que retumbavam como trovões, soaram em um coro diabólico quando indagaram: 

“O que uma mulher como tu busca aqui? As visitas anteriores não foram suficientes?”

“Abri-vos caminho, raça de víboras, pois o Senhor, meu Deus, me enviou!” Exclamei, imbuída da autoridade que só o Rei dos Reis concede.

Os demônios permaneceram silentes, balançando suas caudas pontiagudas como cobras peçonhentas, respondendo apenas com exalações de fumaça escura e abrasadora que escapavam de suas narinas. Com sua aprovação silenciosa, avancei, adentrando aquele domínio misterioso e imenso.

O reino das trevas possui dimensões grandiosas, desafiando a lógica terrena. O teto se perdia na vastidão, estendendo-se por quilômetros a fio, e o espaço se expandia sem fim à vista. Chamas flamejavam por toda parte, como estandartes infernais. Vi árvores de fogo cujos frutos eram brasas incandescentes, lagos que pareciam líquido inflamável, onde almas pecadoras eram condenadas a nadar, e garrafas de cerveja que se assemelhavam a coquetéis molotov.

Naquele sombrio recanto, testemunhei as almas daqueles que zombavam dos meus vídeos nas redes sociais. Lá estavam, rangendo os dentes de aflição, suas línguas bifurcadas que outrora haviam escarnecido dos ungidos do Senhor. Mesmo aqueles que ainda caminhavam pela Terra, suas almas já ardiam nas chamas do inferno. No entanto, não senti pena dessas almas perdidas; elas estavam ali por escolha própria, por rejeitarem as palavras de Deus.

Continuei minha jornada, movendo-me entre as almas atormentadas. Elas estendiam as mãos em minha direção, desejando tocar-me, mas a glória do Senhor que estava em mim as repelia, pois não eram dignas de tocar-me. Os demônios, como sentinelas malignas, cobriam os olhos ao meu passar, incapazes de me tocar ou atacar.

Adiante, vi uma cena macabra: Fidel Castro, amarrado a uma cadeira em chamas, com seu característico uniforme verde e cinco charutos fedorentos acesos na boca. Sua barba ardia em chamas eternas, mas não se consumia, perpetuando seu tormento. O líder comunista apontava com desespero a cabeça na direção de uma estrela vermelha pintada com sangue sobre o chão de cinzas. Nela, as letras formavam a palavra “comunismo”, de onde escorria um sangue sombrio.

“O que tudo isso significa?” perguntei, incapaz de conter minha curiosidade.

“Não percebes, mulher?” Uma voz áspera e rouca surgiu atrás de mim. Era Lúcifer, o próprio demônio, questionando a razão de minha presença. “O que fazes aqui novamente? Será que teu Deus não me dará trégua?”

Ignorei as palavras do maligno e insisti na questão da estrela vermelha no chão. Ele então respondeu, com malícia: 

“É o terrorismo que estou implantando sobre a Terra. Meu domínio já se estende sobre Cuba, Venezuela, China, Coreia do Norte, Palestina e todos os países árabes já são meus. E agora é a vez do Brasil!”

“Que Deus te repreenda, Satanás!” Exclamei com fervor. “O Brasil pertence ao Senhor Jesus!”

O demônio soltou uma risada sinistra, e seus olhos lançaram chamas em minha direção, enquanto um cheiro sulfuroso emanava de sua boca, preenchendo o ambiente com um odor inebriante de perdição.

Indaguei em silêncio se chegara o momento em que Deus me libertaria daquela realidade sombria. Foi então que uma sensação de expansão tomou conta de meu ser, fazendo meu corpo crescer e emitir uma luz resplandecente, que gradualmente envolveu todo o antro maligno.

Quando meus sentidos recuperaram sua clareza, percebi que estava de volta ao aconchego de minha cama, meu peito arfante buscando ar, e meu coração batendo com a velocidade de um pássaro em fuga. No entanto, a serenidade do Senhor começou a se derramar sobre mim, como um bálsamo para uma alma atribulada.

Coloquei a Bíblia sobre a mesinha da cabeceira, retirei meus óculos do rosto com um suspiro de alívio e, com cuidado, apanhei a cartela de Gardenal. Coloquei um dos comprimidos na boca, deixando-o dissolver sob a língua e aguardei o sono chegar.

Naquela noite, o Senhor mais uma vez me visitou, embora suas palavras tenham se perdido nas névoas do sono. No entanto, permaneceu vívida a imagem de Seu rosto, mais alvo que a neve, irradiando um sorriso terno e paternal que acalentou minha alma.

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