Barreto já estava no sexto casamento. “Desta vez encontrei a muié ideal”. Dizia a todos com orgulho característico de um bom sergipano.
Ele era um homem de estatura mediana, cabelo preto encaracolado, duas entradas avançadas sobre a testa, sobrancelhas grossas e bigodão tingido de preto. Tinha as pernas levemente arqueadas e barriga proeminente. Gostava de usar a camisa com os três botões de cima abertos e um relógio dourado no pulso.
A esposa do primeiro casamento o traiu com o vizinho; a segunda vivia metida em encrenca; a terceira gastava todo o dinheiro no bingo; a quarta tinha o gênio do capeta, e a quinta não tinha disposição na cama. Os casamentos foram diversos e os filhos também. Ao todo, treze. Só não teve filhos com a última mulher. “Égua véia!” Reclamava ele. “Nem filho serviu pra me dar!”
Agora, com a sexta esposa, pretendia aumentar sua prole. Ritinha era uma mulher nova, ainda não havia se casado com outro homem e era fogosa na cama, do jeito que o Barreto gostava. Só tinha uma coisa que ele achava estranho: a mulher transava apenas no escuro e só fazia sexo anal.
Barreto chegava à beira da loucura por conta disso. Ele apreciava um bom sexo anal, mas também apreciava meter a língua na periquita raspadinha. “Mas dos males, o menor”, concluiu. Ritinha não saía com outros homens, não se metia em confusão, economizava cada tostão, era amorosa, e na cama era melhor do que todas as cinco ex-esposas juntas. O que mais poderia desejar? Ele já passava dos cinquenta anos e Ritinha não havia chegado aos trinta. Era um “pitelzinho” que ele fazia questão de exibir. Andava na rua de mãos dadas com ela e quando alguém perguntava se era filha, ele orgulhoso batia no peito: “É minha muié!”
Ritinha era ajeitada. Não era bonita, a bem da verdade, mas se arrumava. Tinha o cabelo preto e encaracolado que descia até pouco abaixo dos ombros, peitos fartos, traseiro redondo e pernas finas. Vivia perfumada como flor de jasmim e recatada com um beata.
Num dia desses, Barreto se aprontou e foi passear com a mulher na feira de Itabaiana. Ritinha vestiu uma saia curta, uma blusa florida e enfeitou o cabelo com uma flor rosa de hibisco colhida no portão de casa.
A feira de Itabaiana possui mais de trezentas barracas e ocupa várias ruas do centro da cidade e, devido a grande variedade de produtos expostos, atrai turistas de todas as cidades vizinhas e até da capital sergipana. Em que outro lugar Barreto poderia exibir o seu orgulho?
Ao chegar na feira de mãos dadas com Ritinha, percebeu os olhares das pessoas em sua direção. Inflou o peito, abriu um sorriso de satisfação e caminhou confiante. A mulher, recatada que era, a todo momento ajeitava o decote a fim de cobrir os seios teimosos.
“Ô, cabra, nunca viu muié bonita, não?” Gritou ele para um rapaz na banca de banana.
“Que pouca vergonha!” Gritou alguém no meio da feira.
“Pouca vergonha é tu, frouxo, que nem conta da muié dá!” Gritou Barreto sem saber exatamente a quem dirigia o xingamento.
O fato é que por onde eles passavam, atraíam os olhares das pessoas. Ritinha ajeitava o cabelo desconfiada e Barreto estufava ainda mais o peito, orgulhoso. Numa dessas ruas, avistaram dois “home-muié” que vinham da outra ponta do corredor. Os rapazes, ao passar por eles, deram um sorriso amistoso e cumprimentaram com um aceno discreto de mão. Ritinha baixou o olhar, ajeitou o decote da blusa florida de mousseline e agarrou forte o braço do marido. Barreto os cumprimentou com um aceno de cabeça e segurou a mulher pela cintura.
“Vixi, Maria!” exclamou Barreto fazendo o sinal da cruz. “Visse como os baitolas olharam pra mim?”
Ritinha arregalou os olhos e lançou um olhar desconfiado para trás.
“Agora, sim, cabra! Agora tu vai aumentar a família!” comentou outro homem na barraca de pastel.
“Pelo meno mais dois!” Respondeu Barreto com orgulho passando a mão na barriga de Ritinha.
Falar em filhos era como tocar um sino nos ouvidos de Barreto.
“Vamo contar o caso da onça, muié? Esta feira já deu o que tinha de dar!”
Apesar do seu meio século de idade, o homem tinha um vigor sexual invejável e a mulher, que também gostava de sexo, não podia reclamar.
Chegando em casa, Ritinha entrou no banheiro para se lavar e Barreto ficou no sofá vendo televisão. Viu uma receita de culinária, mudou de canal e viu os primeiros quinze minutos do jogo do Flamengo. A mulher continuava no banheiro.
“Diacho! A onça já tá com a língua pra fora e essa muié não sai do banho!”
Impaciente que era, levantou e foi na ponta do pé até a porta do banheiro, se abaixou devagarinho e olhou pelo buraco da fechadura.
“Vixi Maria! O que é aquilo no meio das pernas de Ritinha?!”
Barreto coçou a cabeça intrigado e olhou novamente pelo buraco. Ritinha tinha um badalo no meio das pernas quase duas vezes maior que o dele. Ela secou bem entre as pernas, sentou na tampa do vaso e pressionou um chumaço de papel higiênico na região da virilha. Depois, ajeitou o badalo para cima, apanhou um pedaço largo de esparadrapo e cobriu o órgão com a fita. Vestiu a calcinha, ajeitou a peça na bunda e olhou no espelho.
A essa altura, Barreto já estava atônito. O badalo havia desaparecido e sua Ritinha estava linda de novo. Voltou apressado para o sofá, colocou os pés sobre a mesinha e ficou vendo o restante do jogo.
Ritinha saiu do banheiro ajeitando os cabelos e seguiu rebolando na direção do marido. Ele permaneceu com os olhos na direção da televisão e fingiu não perceber a presença da mulher.
“Vixi, home! Tô limpinha pra tu e tu num tá nem aí pra mim!” ela reclamou.
“Sente aí no sofá e vamo ver a partida de bola” disse ele sem desviar os olhos da televisão. “A onça perdeu a vontade de entrar na toca hoje.”