ENTRE PUTAS E PAUS

Voltei pra casa tropeçando nas próprias pernas, andando num vai-e-vem desengonçado, quase como aqueles casais que, depois de anos juntos, perderam qualquer resquício de encanto. Não caminham mais lado a lado; ora um vai na frente, ora o outro, mas jamais seguem juntos, como quem ainda se ama.

Assim que cheguei, acendi só o abajur que fica espremido entre a parede e o sofá, emitindo uma luz fraca, quase inútil, o suficiente apenas pra desenhar as sombras dos papéis amassados sobre a escrivaninha. Na real, não queria claridade, nem queria ver coisa alguma. Eu estava num estado mental tão miserável que até as tarefas que normalmente me trazem certo prazer se tornaram indesejáveis. Só pensava em fechar os olhos e dormir. Quem sabe acordar só no dia seguinte. Ou, talvez, nem acordar mais.

Mas, felizmente — ou infelizmente — minha cabeça parecia uma bola de pingue-pongue quicando de um lado pro outro, sem descanso, sem me permitir sequer manter os olhos fechados.

Levantei, fui até a escrivaninha e me sentei em frente à velha Olivetti Lettera que eu ainda insistia em usar. Acendi a luminária que ficava acima dela. A folha de sulfite, já posicionada no cilindro desde a noite anterior, exibia um único parágrafo. Apenas um. Eu estava atolado num bloqueio criativo tão brutal que não conseguia sequer imaginar o que escrever na linha seguinte.

Às vezes, me pego pensando se escrevo por amor à literatura… ou justamente pela ausência de amor. Talvez por não ter alguém do lado pra dividir um cobertor, ou pra assistir a um filme qualquer na Netflix.

Porra! A vontade era me desligar, mas não conseguia dormir, nem escrever. Pensamento disparando pra todo lado, feito um caralho de asa voando torto, sem rumo, sem lógica. Eu precisava de alguma coisa pra relaxar. Mas o quê?

Uma puta! O pensamento surgiu como um estalo, seco, direto. Peguei o celular e abri o grupo do Telegram, um grupo que reúne putas, michês, padres e acompanhantes em busca de sacanagem eventual ou uma grana extra.

Logo que entrei, pipocou uma mensagem direta pra mim:

“A fim de uma trepada, cara?”

O remetente era um cara bombado, com um pau que facilmente dobrava o tamanho do meu. Agradeci e recusei. Não curto pau. Tava atrás de uma perereca. O sujeito insistiu, oferecendo o próprio rabo.

“Faço por 300 mais o Uber” escreveu.

Neguei de novo.

Num misto de tédio e provocação, rolei a galeria do celular, escolhi uma foto do meu pau e mandei pro grupo. A reação? Silêncio absoluto. Ninguém mencionou meu nome, ninguém comentou, nenhum elogiou à foto. Ok, eu sei que não tenho o dote de um ator pornô, mas convenhamos… em ambiente de putaria tamanho deveria ser um detalhe irrelevante.

De repente, uma mensagem citando meu nome. Dessa vez, uma mulher peituda:

“Oi, amor. Tenho uma coisa aqui que pode te ajudar.”

Num estalo, minha mente virou um filme pornô em alta velocidade: peitos, xoxotas, bundas, línguas, etc. Apressado, mas sem demonstrar empolgação, perguntei o que seria.

“Já usou bomba peniana?” perguntou a peituda. “Ela ajuda a dar aquela engrossada que todo homem deseja.”

Puta que pariu! Pensei que ela ia me chamar pra um bate-papo no privado, mas queria era me vender um equipamento pra engrossar o pau! Foi broxante, não posso negar, mas, cá entre nós, quem nunca considerou deixar o brinquedo mais grosso? O fato é que o ego masculino tá plugado diretamente no comprimento e na circunferência do pinto, simples assim.

Meus pensamentos, que até então saltavam como pulgas, por alguns segundos grudaram na proposta da vendedora — mas, na mesma velocidade, dei dois passos mentais pra trás e recuei.

Eu, o cronista atolado no bloqueio criativo, agora me via atolado também numa crise existencial de medida do pau. Fechei o Telegram e joguei o celular no sofá. O que diabos estava acontecendo comigo? Eu estava considerando comprar uma bomba peniana em vez de prosseguir com a minha história? Era uma situação surreal.

A luz fraca do abajur desenhava a sombra dos papéis amassados. Aqueles papéis, antes símbolos do meu martírio criativo, agora pareciam zombeteiros. Uma gargalhada interna, seca e amarga, me sacudiu. Era isso. Era esse o fim. Eu me tornaria o escritor da bomba peniana.

De repente, meu olhar travou na Olivetti. A folha em branco. O único parágrafo. Aquela frase final, sobre a ausência de amor, me atingiu como um raio. Era óbvio. A resposta sempre esteve ali. Não era sobre tamanho ou grossura, nem sobre sexo, nem sobre amor de casal. Era sobre o amor próprio. Eu estava buscando validação em lugares errados, em medidas erradas.

Levantei, determinado. Voltei à máquina, recoloquei os dedos nas teclas e comecei a digitar, furioso, as palavras jorrando como uma torrente. O teclado fazia um barulho satisfatório. E eu percebi que o bloqueio criativo não era falta de assunto, mas excesso de autopiedade. E o fim da minha história, aliás, não era sobre uma bomba pra engrossar o pau, mas sobre uma revolução pessoal, impulsionada por uma inesperada verdade. E, por ironia do destino, o que me salvou daquele poço de desespero não foi a mulher peituda, nem GP bombado, nem a bomba peniana, mas a epifania de que, no fim das contas, a única coisa que precisava inflar era a minha vergonha na cara, não o meu pau que, aliás, vai muito bem, obrigado!

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