CABALA, O ESOTERISMO JUDAICO

Cabala significa “recebimento” e segundo acreditam os cabalistas, são ensinamentos com origem e natureza divinas transmitidos diretamente pela divindade a Adão e aos patriarcas do povo judeu. Mas, segundo a tradição, foi Moisés que recebeu a sabedoria de forma mais profunda quando ele estava no Monte Sinai.

Entre os judeus, a pronúncia é Cabalá, pronunciada como palavra oxítona. Na literatura não judaica, o termo ficou conhecido como Cabala. Entretanto, independente da pronúncia, o significado é o mesmo.

Assim como ocorreu com muitas outras filosofias, durante séculos, essa sabedoria esotérica existiu apenas de forma oral, sendo transmitida e repassada de geração em geração a um pequeno número de pessoas. A primeira versão escrita sobre a Cabalá ocorreu no século XIII e recebeu o nome de Zohar, cujo significado é “explendor”. Atualmente, há vários livros que tratam da mística judaica, mas o Zohar é a coluna vertebral da Cabalá. 

Mas afinal de contas, o que é a Cabalá? Sobre o que ela fala e o que ela ensina? E por que o Zohar é tão importante para entender essa ciência mística?

Embora a Cabalá seja uma tradição mística do povo judeu, vários grupos inspirado na Nova Era introduziram o estudo da Cabalá entre seus praticantes. Entretanto, o verdadeiro “boom” ocorreu após celebridades como Madonna, Luciano Huck e Mike Jagger afirmarem estudar a Cabalá. Muitas pessoas que nunca tinham lido sobre o tema passaram a se interessar pelo assunto e hoje existem milhares de livros e sites dedicados a falar sobre a Cabalá.

Com o despertar da espiritualidade promovido pela Nova Era, o misticismo judaico também experimentou um renascimento popular. Grupos como o Movimento Renovação Judaica ensinam misticismo a judeus espiritualmente inclinados ao esoterismo, enquanto instituições controversas como o Kabbalah Centre oferecem um misticismo mais universal e mágico para judeus e não judeus.

Grosso modo, podemos definir a Cabalá como um método esotérico que engloba um conjunto de ensinamentos relacionados a Deus, ao universo, ao homem, à criação do mundo, à vida e à morte. É a doutrina mística judaica que procura compreender a essência de Deus e do Universo. Entretanto, resumir desta forma seria limitar o real significado.

Muito mais do que uma filosofia esotérica, a Cabalá é uma coleção de comentários místicos sobre a Torá, que são os cinco primeiros livros da Bíblia escritos por Moisés, e os cabalistas acreditam que os segredos do Universo foram revelados por Deus, de forma codificada, naqueles livros. 

O Zohar, o livro mais importante sobre a Cabalá, foi publicado por um escritor judeu chamado Moses de Léon (Moshe ben Shem-Tov) no século XIII, mas a origem do livro foi atribuída ao rabbi Simeão ben Yohai, que viveu por volta do ano 150 d.C. O Zohar contém a teosofia cabalista, que trata da natureza de Deus, da cosmogonia, da cosmologia, da alma, do pecado, da redenção, do bem e do mal, do “eu verdadeiro”, da luz de Deus, e da relação entre a energia universal e o homem. 

Há quem diga que os verdadeiros cabalistas têm o poder de realizar feitos prodigiosos através do conhecimento adquiridos e existem milhares de lendas e histórias relatando os mais diversos fatos, tais como elevação espiritual até os portais celestiais, poderes mágicos ou aquisição de conhecimento que ensina ao cabalista formas de superar obstáculos para evoluir e atingir a paz espiritual.

Muitas vezes, os cabalistas tendem a ver o Criador e a criação como um continuum e desejam experimentar intimidade com Deus. Esse desejo é especialmente intenso devido ao poderoso senso místico de parentesco que os cabalistas acreditam existir entre Deus e a humanidade. Segundo acreditam, dentro da alma de cada indivíduo há uma centelha oculta de Deus que está esperando ser revelada. Segundo entendem, não apenas o homem, mas toda a criação está impregnada de partículas do Criador.

Não é à toa que muitas pessoas têm um primeiro contato com o assunto e logo se interessam pelo estudo mais aprofundado. Entretanto, engana-se quem vê a Cabalá de maneira simplista e pensa que basta ler a Torá e o Zohar para entender a mística judaica. Os verdadeiros cabalistas passam anos estudando todos os mistérios e os significados de cada faceta.

Além de se tratar de um estudo complexo, ao ingressar no estudo da Cabalá é necessário ter um alto grau de alfabetização judaica e uma capacidade de pensar profunda e misticamente sobre Deus e o papel de Deus no mundo. Um estudo superficial conduziria a entendimentos distorcidos e até fantasiosos, como ocorre quando a pessoa estuda qualquer outro tema por mera curiosidade, mas sem se aprofundar no assunto em questão.

Outra dificuldade encontrada são os termos utilizados. Por se tratar de uma religião de um povo, os judeus nascem e crescem observando tradições e rituais que fazem parte de seu dia a dia, muitas vezes utilizando palavras e expressões em hebraico e iídiche. O uso de tais termos são naturais aos judeus e utilizados normalmente na literatura judaica. Assim, a pessoa sem nenhum conhecimento prévio do judaísmo, vai encontrar palavras e conceitos de difícil entendimento.

 A dimensão experiencial da Cabalá envolve a busca real pela experiência mística, ou seja, um encontro direto e intuitivo com a Divindade. Como escreveu Abraham Joshua Heschel, “… querem provar todo o trigo do espírito antes que seja moído pelas mós da razão”. 

De fato, os cabalistas buscam especificamente uma experiência com Deus, não meramente o conhecimento sobre Deus. Em sua busca para encontrar Deus, os místicos judeus procuram viver de forma espiritualmente disciplinada. 

Na Idade Média, a dimensão prática da Cabalá envolvia rituais para ganhar e exercer poder para efetuar mudanças em nosso mundo e nos mundos celestiais. Esse poder, segundo acreditavam, era gerado pela execução de mandamentos, convocando e controlando forças angélicas e demoníacas e explorando as energias sobrenaturais presentes na Criação. 

De fato, podemos dividir a Cabalá em três categorias e a Cabalá mágica é apenas uma delas. 

A Cabalá teórica se preocupa principalmente com as dimensões internas da realidade; os mundos espirituais, almas, anjos e afins. O Cabalá meditativa objetiva treinar a pessoa que está estudando para alcançar estados meditativos mais elevados de consciência através do emprego dos nomes divinos, permutações de letras, e assim por diante. O terceiro tipo de Cabalá é o mágico, que se preocupa em alterar e influenciar o curso da natureza. Também usa os nomes divinos, encantamentos, amuletos, selos mágicos e vários outros exercícios místicos.

A Cabalá mágica foi praticamente abandonada e hoje os sábios estudam sobretudo o aspecto teórico, deixando a categoria meditativa em segundo plano.

Existem muitas vertentes de ensino na Cabalá. Alguns costumam falar de Deus como o En Sof (O Infinito). O En Sof é inacessível e incognoscível para o homem. Mas ele se revela à humanidade através de uma série de dez emanações (sefirot). 

Conforme a Cabalá, a verdadeira essência de Deus é tão transcendente que não pode ser descrita, exceto com referência ao que não é. Assim sendo, o Ein Sof é tão transcendente que não pode ter nenhuma interação direta com o universo e se limita a interagir com o universo através de dez emanações de sua essência, conhecidas como “as Dez Sefirot”.

Essas Sefirot correspondem às qualidades de Deus e essas qualidades consistem, em ordem decrescente, Keter (a coroa), Chochmá (sabedoria), Biná (intuição, entendimento), Chesed (misericórdia) ou Gedulá (grandeza), Gevurá (força), Tiferet (glória), Netzach (vitória), Hod (majestade), Yesod (fundação) e Malkut (soberania).

A maioria das sefirot são consideradas objetos legítimos para a meditação humana; elas representam uma maneira pela qual os seres humanos podem entrar em contato com Deus. Ou seja, através da contemplação e atos virtuosos, os seres humanos também podem trazer a graça divina para este mundo.

As dez esferas representam os dez números arquetípicos e, no geral, existem 32 caminhos na Árvore da Vida, dos quais os 10 primeiros são as Sephirot (esferas). Os 22 caminhos restantes correspondem às linhas ou canais de energia que unem as Sephirot. Cada um desses caminhos corresponde a uma das 22 letras do alfabeto hebraico, conforme representado na imagem da árvore da vida.

O alfabeto hebraico é considerado de grande importância como código celestial ou modelo para o cosmos. O Zohar está repleto de referências à importância do alfabeto hebraico, e muitos visionários judeus destacaram que, ao dominar o alfabeto hebraico, um indivíduo pode obter conhecimento supremo sobre o reino da matéria.

A árvore da vida, no entanto, representa uma série de emanações divinas da própria criação de Deus do nada (ex nihilo), a natureza da divindade revelada, a alma humana e o caminho espiritual de ascensão do homem. Desta forma, os cabalistas desenvolveram o símbolo em um modelo completo da realidade, usando a árvore para representar um mapa da Criação.

O diagrama da Árvore da Vida das 10 Sefirot (ou inteligências energéticas) nos permite compreender muitos aspectos do mundo físico e os ensinamentos espirituais do Zohar e da Cabalá.

Hoje em dia, é frequente deparar-se com websites abordando os enigmas da Cabalá, assim como com anúncios no Instagram que oferecem métodos de “assinatura” cabalística para atrair prosperidade ou orações cabalísticas para atrair dinheiro. No entanto, um verdadeiro cabalista compreende que o método mais eficaz para atrair dinheiro e prosperidade é chamado de trabalho. O cabalista não busca adquirir conhecimento e poderes transcendentais que lhe permitam mudar o mundo num passe de mágica. Isso é meramente especulativo.

Apesar do fascínio que a Cabalá exerce sobre o pensamento humano, o fato é que o propósito final no estudo da Cabalá é o aprimoramento do ser, tornando-se um indivíduo melhor, mais expandido, mais transcendente, mais sintonizado com a essência e as raízes de sua alma. 

Por Claudio Novakz

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