Eu estava assistindo Wandinha quando recebi a mensagem pelo Whatsapp.
“Opa! Inspirado hj?”
“Tô nada” respondi. “Tô aqui vendo um filme”
“Putz”
“Pq? A fim de uma cerveja?”
“a fim de escrever, de pensar. Cerveja já tomei um monte hj”
“Amanhã tô em casa o dia todo. O q acha?”
“Relaxa”
“Blz. Amanhã a gente se fala” respondi. “Abraço”
“”
No dia seguinte, lavei roupa, varri a casa e liguei a televisão pra ver o último episódio da Wandinha. Eu não trabalho às segundas e a minha rotina nesse dia é basicamente a mesma. Como de costume, fiquei vendo TV e mexendo no celular ao mesmo tempo.
“Fala, meu querido” enviei a mensagem pro meu amigo. “Tudo ok por aí?”
Ele não respondeu, mas não estranhei. O Breno sempre responde às mensagens uma ou duas horas depois. Coloquei o celular no braço do sofá e voltei pra televisão.
Depois da Wandinha, comecei a ver outro filme e acabei cochilando no sofá. O dia chuvoso lá fora convidava pra um cochilo.
Tem coisa melhor do que dormir com chuva? Desconheço alguém que não goste de fazer isso. A chuva caindo no telhado, o petricor que levanta e nos faz lembrar da infância. E nem importa se o odor é causado por plantas e bactérias, aliás, quase ninguém sabe disso. Pra falar a verdade, quase ninguém sabe que o cheiro característico que levanta da terra quando chove se chama petricor.
No décimo andar não tem como ouvir o barulho da chuva no telhado nem sentir o petricor, mas o tamborilar das gotas pesadas se chocando contra o vidro da sacada despertava o sentimento de aconchego bastante semelhante.
Quando acordei, a chuva já havia cessado. Instintivamente, olhei o celular outra vez. O Breno ainda não havia respondido. Comunicação por texto é uma merda. A gente nunca sabe se a pessoa não responde porque está dormindo, dirigindo, trepando ou qualquer outra coisa. Antes de inventarem os aplicativos de mensagens a gente ligava, mas o WhatsApp mudou os nossos hábitos de comunicação.
Me espreguicei demorado, mandei a Alexa tocar uma música do Maroon 5, e fui para a cozinha preparar o lanche da tarde: um chocolate quente e duas fatias de pão de forma. Mais uma das minhas manias.
Acho que estou ficando velho. Toda segunda-feira faço sempre as mesmas coisas. Lavar roupa, limpar a casa, ver TV, tirar soneca no meio do dia sem ver o final do filme, e fazer o lanche no final da tarde.
Engraçado como as nossas manias mudam no decorrer da vida. Entre os 12 e 17 anos eu tinha mania de bater punheta, duas ou três por dia. Dos 18 aos 25, eu passava o tempo mexendo na moto. Dos 25 aos 35 anos gostava de ler, lia até bula de remédio que, aliás, eu já estava comprando com maior frequência. Mas após fazer 39 anos passo quase todo o tempo livre vendo Netflix. A velhice vai chegando de mansinho, a passos pequenos, e quando percebemos já estamos cheios de manias. Fico imaginando quando chegar aos 45 ou 50 anos.
No dia seguinte, 7h da manhã, o meu celular começa a vibrar. Sete mensagens curtas, uma atrás da outra.
“Blz?”
“Como vc tá?”
“cara, quase esfolei o meu tau”
“*pau”
“Fui pra Carol, fumamos baseado”
“e depois a gente trepou”
“muito p falar a vdd”
Ri, mas não enviei nenhuma mensagem de volta. Era provável que à noite ele ia dar um pulo em casa pra beber, filosofar e contar as histórias do dia anterior. Isso se ele não saísse com a Carol de novo.
O Breno também é cheio de manias. Quando não está fumando, está bebendo cerveja ou enfiado entre as pernas de alguma garota. Manias. Quem não tem alguma?