Embora não seja uma prática exclusiva do povo judeu, a circuncisão está intimamente ligada à religião e culturas judaicas, pois, como sabido, todo judeu é circuncidado.
Eu não imaginava que o tema despertasse tanto interesse, mas as frequentes mensagens que recebo no meu direct mostram o contrário. Em sua maioria, são de pessoas que estudam o judaísmo e querem saber mais sobre essa prática religiosa tão particular.
Muitas das respostas abaixo estão pautadas em conversas que tive com conhecidos que se converteram ao judaísmo e compartilharam comigo o que sentiram após a retirada do prepúcio. Por motivos óbvios, não citarei nomes, datas e localização, focando apenas nas respostas às perguntas recebidas de seguidores do Instagram ou perguntas de amigos mais próximos.
Não tenho a pretensão e muito menos interesse em passar o feedback baseado em parecer de profissionais da área médica, pois o tema se caminharia para o lado técnico e fugiria por completo da proposta original. Além disso, as respostas foram dadas por pessoas que sentiram na pele o que significa ser circuncidado depois de adulto e não em parecer de especialistas que conhecem o tema sem ter passado pela mesma situação.
Cabe, ainda, salientar que, embora a circuncisão não seja exclusiva do povo judeu, procurei a maioria das respostas entre judeus convetidos, pois são as pessoas que conheço e as quais poderiam passar informações fidedignas. Naturalmente, as respostas servirão para os questionamentos de qualquer pessoa que queira se submeter à remoção do prepúcio, seja por motivos de saúde, seja por motivos religiosos.
O termo utilizado por especialistas da área médica é postectomia. No judaísmo é brit milá e no islamismo é conhecido como tuhur, mas, independente do nome dado ao procedimento, o resultado é o mesmo: a circuncisão, ou seja, a retirada do prepúcio e a exposição da glande.
Agora, sem mais delongas, vamos às perguntas e respostas.
P: Qual a idade ideal para a postectomia?
R: Quanto mais cedo, melhor. No entanto, nada impede que um adulto de idade já avançada passe pelo procedimento, exceto se for contra-indicado por motivos de saúde.
P: Quanto tempo eu vou ficar internado?
R: Por se tratar de um procedimento bastante simples, quando a cirurgia é realizada com sedação, a liberação ocorre no mesmo dia, apenas algumas horas após o procedimento.
P: A cirurgia é dolorida?
R: Não. Durante a cirurgia você estará sedado, então, nada de dor. Nos dias que seguem ao procedimento cirúrgico, há a necessidade do uso de analgésico visando evitar a dor. De qualquer forma, a dor costuma ser tolerável.
P: Corro o risco de ficar com o pênis torto devido a erro na cirurgia?
R: Alguns homens têm o pênis torto para o lado, para cima ou para baixo, e essa curvatura faz parte da fisiologia e nada tem a ver com a postectomia. A cirurgia para retirada do prepúcio costuma ser um procedimento bastante simples se comparado com outras cirurgias e em nada afeta a curvatura do pênis.
P: Os pontos da cirurgia podem se romper?
R: Se os devidos cuidados não forem observados, pode acontecer. Por isso, é necessário observar as recomendações do cirurgião e o prazo prescrito antes de reiniciar a atividade sexual. Após o primeiro mês é possível uma masturbação leve, sem forçar muito o corpo do pênis. Atentando a esses cuidados, a cicatrização ocorrerá sem nenhum transtorno. Caso contrário, os pontos podem se soltar e você ficará com um pequeno Frankenstein no meio das pernas.
P: É verdade que o pênis fica maior depois da retirada do prepúcio?
R: Puro mito! A circuncisão não aumenta e nem diminui o tamanho do pênis. Se fosse assim, os consultórios médicos ficariam lotados de homens querendo agendar a cirurgia. O que ocorre é que a exposição da glande passa a impressão de um pênis maior, afinal de contas, quando o pênis está ereto e, portanto, maior que em estado de repouso, normalmente a glande fica exposta.
P: A retirada do prepúcio melhora o sexo?
R: Depende. A sensação é diferente, mas não significa uma melhora ou piora. Essa sensação vai depender do motivo que levou o indivíduo a se submeter ao procedimento. Algumas pessoas relatam uma perda de sensibilidade, outras afirmam o contrário. É mais uma questão psicológica do que física.
Pergunta: A retirada do prepúcio tira o prazer da masturbação?
R: No caso do indivíduo que se submeteu à postectomia por causa da fimose, a glande exposta tende a aumentar o prazer, tanto no primeiro mês após a cirurgia, quanto nos meses que seguem. No caso de indivíduos que optaram pela circuncisão e que nunca tiveram fimose, a ausência da glande deslizando sobre a cabeça do pênis pode interferir no prazer, sim.
P: Meu escroto vai diminuir após a cirurgia?
R: De jeito nenhum! Não tem nenhuma relação uma coisa com a outra e seu escroto vai continuar do mesmo tamanho.
P: A circuncisão pode interferir na qualidade dos espermatozoides?
R: Há homens que apresentam déficit no percentual ou na qualidade e tais fatores dificultam ou impedem que o casal tenha filhos, mas isso deve-se a outros fatores e não tem nenhuma relação com a retirada do prepúcio.
P: A quantidade do esperma vai diminuir após a circuncisão?
R: Esta é uma preocupação bastante comum àqueles que vão se submeter à cirurgia, mas não é o prepúcio que produz o esperma, logo não há nenhuma relação entre a remoção do prepúcio e a diminuição da quantidade de esperma.
P: E com relação ao sexo oral, fica mais sensível?
R: No sexo oral tende a ficar mais sensível e o prazer se torna mais intenso, sobretudo para o indivíduo que passou parte da vida com a glande escondida dentro do prepúcio, ou seja, os portadores de fimose. Entretanto, para os homens que optaram pela remoção do prepúcio por motivos religiosos, por mais que o praticante de sexo oral tenha uma língua experiente, lamento informar, mas nada substitui o prepúcio deslizando dobre a glande.
P: A glande muda de cor após a retirada do prepúcio?
R: Muitas pessoas acreditam que após a retirada do prepúcio, pelo fato de a glande passar a ficar em contato direto com o tecido da cueca, haverá alteração da cor. Isso é mito. A sua glande vai ficar da mesma cor.
P: Eu corro o risco de ficar com a “síndrome de um membro amputado”?
R: Não há registro de síndrome de membro amputado em pessoas submetidas à cirurgia para a remoção do prepúcio.
P: Vou poder praticar esportes após a cirurgia?
R: No primeiro mês não é aconselhável fazer esforço e, devido aos pontos ainda estarem presentes, fazer movimentos bruscos pode se tornar incômodo e até mesmo perigoso. Após a cicatrização, você poderá levar vida normal, o que inclui praticar o seu esporte favorito.
P: Corro o risco de ser rejeitado por minha namorada ou parceiro sexual?
R: Corremos risco todo dia e de várias formas. Na vida sexual não é diferente. Há pessoas que preferem homens circuncidados e há pessoas que preferem pênis com prepúcio. Mas, independente da preferência, dificilmente alguém vai rejeitar um bom momento de prazer com outra pessoa apenas por isso.
P: A postectomia é uma cirurgia muito invasiva? Posso ficar com algum tipo de sequela?
R: Como qualquer outro procedimento cirúrgico, pode ocorrer algum imprevisto, mas, de modo geral, a postectomia é uma cirurgia simples e não costuma oferecer riscos ao paciente.
P: Vou poder transar sem camisinha?
R: Independente de qualquer coisa, o uso de camisinha, sobretudo em sexo com pessoas desconhecidas, é sempre aconselhável. Embora a circuncisão aumente a resistência contra algumas doenças sexualmente transmissíveis, isso não significa que o bilau se tornou um superpênis imune a qualquer vírus ou DSTs.
P: Vou poder fazer sexo anal sem usar camisinha?
R: A resposta anterior já responde a pergunta. Como explicado, há quem faça sexo anal sem camisinha, mas, como qualquer outro pênis, o ideal é que se faça sempre com preservativo, a fim de evitar uma série de doenças.
P: Tenho pavor de sangue! Vai ficar sangrando muito?
R: Pode ficar tranquilo com relação a isso. Como se trata de um procedimento cirúrgico, é natural que haja sangramento, mas o procedimento cirúrgico é realizado com o paciente sedado e você não vai ver nada. Nos primeiros dias haverá um sangramento mínimo, mas não se preocupe, porque não é nada assustador.
P: Após a cirurgia, a glande vai ficar em contato direto com a cueca, em constante atrito. Corro o risco de ficar com ereção constante?
R: Para algumas pessoas isso seria a glória, mas não, o homem circuncidado não corre o risco de ficar de barraca armada o tempo todo. Durante o primeiro mês, logo após a retirada do curativo, a glande apresenta maior sensibilidade, mas aos poucos essa sensibilidade inicial diminui e a ereção vai ocorrer de forma natural, apenas quando se quiser usar. Claro que estamos falando de pessoas sem problema de ereção.
P: Tenho problema de ereção. A postectomia pode resolver esse problema ou ajudar na ereção?
R: Esse não é o objetivo da postectomia. São vários fatores responsáveis pela falta de ereção e, se for o seu caso, melhor procurar um urologista e não querer partir direto para a cirurgia para a remoção do prepúcio.
P: Corro o risco de perder a sensibilidade?
R: Há relatos de pessoas que se submeteram à cirurgia para a remoção do prepúcio e se queixam de não ter o prazer na mesma intensidade que tinham antes da postectomia. Não significa que será o seu caso, mas pode acontecer de haver uma diminuição considerável.
P: Vou poder ficar sem lavar o pênis?
R: Isso é questão de higiene. A remoção do prepúcio impede o desenvolvimento do esmegma, mas usar isso como pretexto para não lavar a piroca, aí já é porquice.
P: Quero me converter ao judaísmo. Tenho mesmo que fazer a circuncisão?
R: Sim. A circuncisão é uma condição sine qua non. Se não se submeter à remoção do prepúcio, não é possível se tornar judeu.
P: E se eu quiser ser muçulmano, vou precisar fazer a cirurgia?
R: Nos países ocidentais, a remoção do prepúcio para quem deseja se converter ao islamismo é recomendada, mas não obrigatória. Ao contrário do que ocorre no judaísmo, você pode se converter e manter o pênis intacto.